Unbossing: por que os líderes devem incentivar a cultura “sem chefe”

Conceito, que vem ganhando força nas empresas, define a liderança que se adapta às necessidades da equipe

Empresas têm buscado líderes com um perfil diferente do tradicional, capazes de se adaptar rapidamente a mudanças constantes. “O chefe com o perfil de comando e controle, centralizador e egocêntrico, perdeu espaço para o gestor mais colaborativo, que busca soluções com o apoio da equipe”, afirma Caroline Marcon, consultora organizacional e autora do livro “O Poder dos Times AAA”. A seguir, ela ela explica por que a cultura unbossing, que se caracteriza por uma liderança adaptativa às necessidades da equipe, vem se destacando nesse cenário.

“Sob esse novo conceito, o líder necessita de habilidades que valorizem o trabalho em conjunto. Ele deve, por exemplo, ouvir mais do que falar, atuar como mentor, treinar e desenvolver liderados, demonstrar verdadeiro interesse em saber o que e como o time pensa, “abraçar” quem pensa diferente dele e construir ideais de maneira colaborativa.

Em 2019, tive a chance de participar do projeto de transformação cultural de uma empresa que atuou para promover a inovação liberando a criatividade, a curiosidade e o senso de inclusão e colaboração entre os profissionais, para que se sentissem mais livres e estimulados a criar produtos e alternativa inovadoras.

O termo ‘unbossing’ foi escolhido para despertar curiosidade entre os líderes e colaboradores da companhia. Pensou-se em atrelar as novas exigências de líderes aos termos líder coach ou liderança servidora, mas estes já eram muito conhecidos à época e não foram tratados com a atenção que mereciam. Assim que ouviram o termo ‘unbossing’, muitos se questionavam se a necessidade de líderes diminuiria ou se tornaria obsoleta. O interesse e o engajamento foram instantâneos.

Logo, uma série de rituais de cultura foram adaptados para trazer essa ideia de proximidade, de igualdade, de união, de trabalho e construção conjuntos. O dress code foi um dos primeiros aspectos a ser influenciado pela transformação cultural. Líderes começaram a usar roupas mais informais, mais próximas daquelas usadas pelos demais colaboradores. O layout dos escritórios também mudou. O CEO da companhia, por exemplo, renunciou a uma sala formal e mesa fixa, para passar mais tempo com os demais profissionais.

O sucesso ocasionado pela revolução trazida pelo unbossing tem causado uma curiosidade muito grande do mercado. Mas para que essa cultura seja implantada com sucesso, alguns cuidados são necessários, como ter um direcionamento claro de aonde se quer chegar com as mudanças, estar ciente dos valores que sustentarão essa transformação e agir para tornar essa nova visão uma realidade. Neste sentido, a liderança tem um papel fundamental, pois é ela que fornecerá a “cola” para que todos os colaboradores permaneçam unidos e em torno de um objetivo comum.

Dessa forma, apesar do nome ‘unbossing’, que poderia ser traduzido para o português como ‘sem chefe’, essa nova cultura continua precisando bastante de gestores, apesar de modificados. Uma vez que há mais pessoas pensando juntas em uma solução criativa, em uma ideia diferente, é possível acelerar resultados ou a inovação nas empresas, de uma maneira que a prática de comando e controle não se estabeleça.

O ambiente corporativo de maior segurança psicológica, maior colaboração e mais informalidade propicia também uma cultura de aprendizagem, que é benéfica à equipe e aos líderes. Todos aprendem juntos e todos se desenvolvem. Afinal, para criar um ambiente unbossing é necessário autoconhecimento para dominar o ego e a vontade de mandar e de ter o controle sobre as pessoas e todas as respostas.”