Como a cultura da culpa influencia sua vida pessoal e profissional?
Achar culpados é mais importante que alcançar os resultados? A resposta natural seria não! Infelizmente, muitas vezes agimos dessa forma equivocada, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Em minha experiência no mundo corporativo, aprendi a lidar e a combater o que batizei de cultura da culpa. Trata-se de hábitos arraigados em um ultrapassado estilo de administração que priorizam achar o culpado pelos problemas e não juntar esforços para resolvê-los.
Em nossa vida pessoal, também caímos nessa armadilha. Adoramos achar culpados. Está no automático do nosso subconsciente. Se algo não vai bem, sempre existe a possibilidade de apontar a responsabilidade para outrem e não para nós mesmos.
Até que ponto essa forma de pensar pode afetar nossas vidas?
A culpa nas empresas
Tive a oportunidade de viver duas realidades distintas nas empresas em que atuei ao longo de quase três décadas. No início de minha carreira no meio industrial, eu não tinha noção do quão nocivo era o contexto em que estava inserido. Por inúmeras vezes, presenciei reuniões em que os gestores – de modo muito enfático – apontavam publicamente os culpados pelos resultados não alcançados.
Criava-se, então, uma atmosfera em que o resultado da empresa era um detalhe secundário. As pessoas apenas não queriam ser apontadas como culpadas. Passava a ser esse o objetivo dos representantes de cada setor. Muitos até chegavam a camuflar seus trabalhos para que as falhas não fossem descobertas. Chegava-se ao cúmulo de manipular dados para que outro (setor) fosse responsabilizado.
Os diretores, por sua vez, incentivavam esse tipo de atitude. Precisavam responder aos seus superiores e, quando não tinham resultados favoráveis, precisavam de culpados para justificar. E assim um círculo vicioso se formava, tornando o ambiente de trabalho insuportável, fortalecendo o individualismo, gerando considerável perda de energia, dentre outros revezes.
Responsabilidade compartilhada
Felizmente, tive a felicidade de fazer parte de equipes em que a cultura da culpa foi abolida por completo. No lugar dela, foi adotada a responsabilidade compartilhada, onde não havia preocupação de achar culpados pelos resultados ruins, mas de unir forças para resolver os problemas. Percebeu-se que todos poderiam contribuir e se ajudar por um bem maior, que no final das contas, era o que interessava.
Desta forma, quando algum setor tinha problemas que afetavam as metas da empresa, os gestores se reuniam e discutiam o que poderia ser feito para ajudar. Não era incomum time de engenharia dando suporte na área de materiais ou equipe de produção ajudando na logística, dentre outros exemplos.
Frases como resolve essa porra que o problema é teu ou cada cachorro que lamba sua caceta foram trocadas por como podemos ajudar? Uma diferença abismal.
De quem é a culpa?
Fazendo uma analogia entre empresas e nossa vida cotidiana, muitos de nós nos aproximamos do perfil daquele gestor ultrapassado, que incentiva seus subordinados a se livrarem da culpa e não alcançarem os resultados.
Em outras palavras, não utilizamos os recursos que dispomos (e que, muitas vezes, nem sabemos que temos) porque apenas achar o culpado é o suficiente para justificar nossa incapacidade ou falta de vontade de seguirmos na direção que almejamos.
Agora pare e pense na sua vida.
Quantas vezes você já culpou alguém ou alguma coisa por suas dificuldades? Relacionamentos, carreira, saúde, etc. Sempre tem um culpado, menos você mesmo.
É natural do ser humano projetar a responsabilidade para alguma coisa, afinal o macaco só olha para o rabo do outro, certo? Nos julgamos, na maioria das vezes, vítimas de um universo injusto. Sentimos pena de nós mesmo e paralisamos nossa capacidade de superação.
O primeiro passo para sair dessa armadilha é assumir que temos uma generosa parcela de responsabilidade sobre nossas ações e, consequentemente, sobre nossos resultados.
Assim como os gestores de empresas inteligentes, que não perdem tempo procurando culpados e incentivam a potencialização dos seus times para encontrarem as soluções, podemos adotar posturas e atitudes mentais que nos permitam sair do estado de vítima para uma condição de donos da situação.
Somos os diretores de nossas vidas! Cada pensamento que cultivamos – em relação aos nossos problemas – é a representação dos gestores dos departamentos que conduzem nossos resultados. Podemos incentivá-los a acharem culpados ou direcioná-los a encontrarem a melhor alternativa, utilizando o máximo de seus recursos.
Não é fácil, mas nem de longe é impossível.