É possível trabalhar sem dress code?

A resposta é sim. Empresas percebem que dar liberdade para os funcionários escolherem como querem se vestir no trabalho aumenta o engajamento e a felicidade.

“E a bermuda?”. Essa foi uma das perguntas que um dos funcionários da IBM fez durante um bate-papo com o RH da companhia. O argumento dele e de vários colegas é que todos gostariam de usar roupas mais leves durante os dias de calor.

A questão ficou na cabeça dos executivos de recursos humanos que ficaram pensando em como poderiam atender a essa demanda. A alternativa foi abolir o dress code, que, embora fosse flexível e, desde 1996, não exigisse o uso de terno, ainda não incluía as bermudas, rasteirinhas e tênis. “Foi uma maneira de nos aproximar dos funcionários e reafirmar nossos valores de diversidade e confiança”, diz Christiane Berlinck, diretora de RH da IBM, em São Paulo. No dia 23 de fevereiro de 2017, no alto verão, a novidade foi comunicada por meio de um vídeo publicado no blog interno da IBM. E no dia 3 de março, a companhia postou o vídeo em sua página do Facebook – a notícia ganhou 1 300 curtidas. “A quantidade de fotos de pessoas usando bermuda que eu recebi nos dias seguintes foi incrível”, afirma Christiane.

Questão de bom senso

A história da IBM mostra que a expressão individual está ganhando força nas corporações – tendência que vem na esteira da flexibilização dos modos e nas relações de trabalho, que estão cada vez menos hierárquicas. “A moda é a representação da sociedade e da cultura da época”, diz Ana Franco, consultora de imagem no Rio de Janeiro e em Goiânia. Mas, mesmo sem regras, as empresas podem dar orientações genéricas para ajudar os funcionários a não cometerem erros. No vídeo, a IBM fez questão de deixar claro que o mais importante é o bom senso de pensar sobre os compromissos diários e adequar a roupa às necessidades. Se existe um encontro com um cliente formal, é melhor usar roupas sociais. Se não, é só não abusar e vestir uma bermuda de praia.

Claro que, no começo, essa mudança pode ser chocante para alguns. “Por ser uma empresa centenária e tradicional, a ideia de que a roupa representa o negócio deixava alguns pouco à vontade com a liberdade. Mas, depois de um tempo com o projeto, essas pessoas também foram mudando”, diz Christiane. E há, claro, os embaixadores da causa. Um executivo que está há quarenta anos na empresa e que gosta de usar terno e gravata fez questão de comandar uma reunião de bermudas. O objetivo era mostrar para a equipe que todos podiam usar o que quisessem.

Transformação cultural

A diretora de gente e gestão da Suzano, empresa de papel e celulose, Julia Fernandes, em São Paulo, também avalia como acertada a medida recente da empresa de acabar com o dress code no começo deste ano.

Na Suzano, o dress code não existe mais desde o começo do ano. A decisão veio em conjunto com a revisão cultural da companhia, que passou a dar mais liberdade para os funcionários – cujo lema, agora, é trabalhar “juntos e misturados”, sem mesas fixas no escritório de São Paulo. Assim como a IBM, a fabricante de papel e celulose foi motivada por um funcionário, que perguntou se a empresa tinha um código de vestimenta. “Por conta do empoderamento e da autonomia que damos aos funcionários, não fazia sentido ter um dress code”, diz Julia Fernandes, diretora de gente e gestão da Suzano. “A ideia era aumentar a interação e tornar as relações menos formais.”

A questão da vestimenta serviu para reforçar as mudanças culturais da empresa. “Dizer que não tinha o dress code foi simples: fizemos uma reunião em que comunicamos que as pessoas poderiam vir vestidas do jeito que quisessem, desde que com bom senso”, afirma Julia. Logo em seguida, o escritório começou a ficar cheio de gente usando jeans e camiseta. E o resultado da ação é tangível: na última pesquisa de clima da companhia, 95% dos funcionários disseram se sentir orgulhosos em trabalhar na empresa. Além disso, a Suzano foi eleita a Melhor Empresa para Começar a Carreira de 2017 – a prova de que, principalmente para os jovens, estar em um ambiente que dá liberdade de escolha (para se vestir e se desenvolver profissionalmente) é fundamental.

sandro